domingo, 4 de outubro de 2015

Fim da era Dekassegui - Inicia-se agora a era dos “brasileiros residentes no Japão”.




Declaração de Yokohama redigida pelo Conselho de Cidadãos de Tókyo será encaminhada aos governos do Brasil e do Japão.

Após 25 anos da reforma da lei de imigração japonesa que permitiu o visto de longa duração aos descendentes japoneses, foi decretado oficialmente neste sábado, 3, em reunião do Conselho de Cidadãos de Tókyo, o fim da chamada “era dos dekasseguis”. Inicia-se, agora, a chamada era dos “brasileiros residentes no Japão”, segundo consta na “Declaração de Yokohama”, um documento que será encaminhado para os governos do Brasil e do Japão.

Como se sabe, a palavra “dekassegui” significa literalmente “sair para ganhar dinheiro” e costuma ser usada para denominar os trabalhadores temporários. Além disso, este termo carrega uma conotação negativa, associando o indivíduo e/ou grupo à uma imagem de pobreza e falta de compromisso com o local onde foi trabalhar.
Hoje, seis em cada dez brasileiros no Japão têm visto permanente. Muitos deles já compraram casa no país. Um número significativo de brasileiros passou da posição de empregado para empregador com empresas, lojas, serviços, escolas, organizações não-governamentais e veículos de comunicação, vários brasileiros floresceram nas mais diversas regiões.

Texto da Declaração de Yokohama

 “Acabou a era decasségui  - Escolhemos ficar no Japão”

Completaram-se, em junho deste ano, exatos 25 anos desde a implementação da reforma na Lei de Imigração Japonesa, que entrou em vigor em 1990.  Como se sabe, esta Lei permitiu que os estrangeiros “nikkeis”(descendentes de japoneses) entrassem no Japão com vistos que não previam limitações no tipo de atividade exercida. Essas atividades poderiam incluir a visita aos parentes e, eventualmente, exercer trabalhos sem qualificação para custear a estadia no país.
Embora haja controvérsias sobre a intenção ou não do governo japonês em usar esta reforma legal para atrair nikkeis estrangeiros como mão-de-obra dos setores automobilístico e de eletroeletrônicos, entre outros, não há margem para dúvidas de que isso desencadeou uma onda migratória de sul-americanos – especialmente de brasileiros – para o Japão. E este fenômeno – assim como cada pessoa que aderiu a este movimento migratório – passou a ser denominado de “dekassegui” (e mais tarde, grafado como “decasségui” nos dicionários de língua portuguesa).
Como se sabe, a palavra “dekassegui” significa literalmente “sair para ganhar dinheiro” e costuma ser usada para denominar os trabalhadores temporários e sazonais, seja no âmbito doméstico ou transnacional. Além disso, este termo carrega uma conotação negativa, associando o indivíduo e/ou grupo a uma imagem de pobreza e falta de compromisso com o local onde foi trabalhar – no caso de migrante transnacional, o seu país de origem.
Decididamente, este não é o caso dos migrantes da rota Brasil-Japão.  Hoje, seis em cada dez brasileiros no Japão têm visto permanente. Muitos deles já compraram casa no Japão. Um número significativo de brasileiros passou da posição de empregado para empregador de mão-de-obra, e outros tantos já exercem profissões que exigem qualificação. Empresas, lojas, serviços, escolas, organizações não-governamentais e veículos de comunicação ou administrados por brasileiros floresceram nas mais diversas regiões do Japão.
A crise financeira global de 2008, seguida de uma demissão em massa dos brasileiros, poderá ter provocado o desmantelamento da comunidade brasileira no Japão. Não foi o que aconteceu. A maioria dos brasileiros escolheu ficar. O terremoto, tsunami e pânico nuclear de Tohoku de 2011 também poderiam ter provocado um retorno em massa dos brasileiros.
Mais uma vez, a maioria dos brasileiros decidiu ficar. Ficar no Japão. Ser membro ativo desta sociedade. Contribuir para o desenvolvimento deste país. Foi esta a decisão consciente dos 175.410 brasileiros registrados pelo Ministério da Justiça (conforme as estatísticas de dezembro de 2014), sem contar outros tantos que não aparecem nas estatísticas por terem cidadania japonesa.
Os brasileiros que ficaram no Japão contribuem não apenas trabalhando, consumindo e pagando impostos. Querem fazer parte da corrente do がんばろう日本! “Gambaroo Nippon!”. Prova disso é que, diante da tragédia de março de 2011, os brasileiros não ficaram de braços cruzados.
Foram para Tohoku prestar ajuda e solidariedade em atividades voluntárias. O sentimento uniu as pessoas foi este: “Escolhemos ficar aqui, fazemos parte desta sociedade.”Por tudo isto, nós, brasileiros no Japão, gostaríamos de aproveitar o ensejo dos 25 anos da reforma da Lei de Imigração para decretar o fim da “Era dos decasséguis/decasséguis. E declarar oficialmente o início de uma nova era que, na prática, já começou há muito tempo: a era dos “brasileiros residentes no Japão”, cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres como membros da sociedade japonesa, sem perder os laços culturais e afetivos com seu país de origem, Brasil.
Esta nossa declaração é, ao mesmo tempo, uma solicitação dirigida à população em geral, e em especial às autoridades relacionadas, para que colaborem na solução das diversas questões levantadas neste Painel. Pois nunca é demais frisar: “Escolhemos ficar!”

Yokohama, 3 de outubro de 2015.

Conselho de Cidadãos de Tóquio

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