quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Suicídios crescem 10% em Fukushima, diz pesquisadora


JAPÃO


"É preciso trazer à tona para que a questão seja focada como um problema de saúde pública", declarou Kayoko Sakisaka, da Universidade Chuo
by MARLY HIGASHI
Tóquio, 3/nov - O número de suicídios aumentou pelo menos 10 por cento na província de Fuksuhima, após o acidente nuclear ocorrido em março deste ano, informou a pesquisadora Kayoko Sakisaka, da Chuo University, de Tóquio. Segundo ela, em maio foram registrados 656 suicídios a mais em todo o Japão, em relação ao mesmo mês de 2010.

O Japão tem o maior índice de suicídios entre os países ricos e não dá sinais de reverter esse triste ranking. Diariamente cerca de 90 pessoas tiram a própria vida. Desde 1980, o país registra mais de 30 mil suicídios por ano, numa evidência do quanto as políticas de prevenção estão atrasadas.

Ainda prevalece o pensamento de que atentar contra a própria existência é um ato de escolha pessoal, apesar dos estudos demonstrarem motivações de fundo social como falência, desemprego, excesso de funções e longa jornada de trabalho.

Sakisaka afirma que existe no país uma aceitação cultural maior desse tipo de morte, ao contrário das sociedades cristãs, onde o ato é condenado desde pequeno.

Além disso, dar fim a si próprio é visto por muitos como um resgate da honra.

Sakisaka critica a falta de uma política de saúde mental, lembrando que a prevenção de acidentes de trânsito, que causam menos vítimas fatais (5 mil por ano), é contemplada com um orçamento bem maior.

A pesquisadora defende uma ação multilateral, envolvendo escolas, áreas de saúde, prefeituras e organizações voluntárias, indo, portanto, além da polícia.

Para ela, é preciso conhecer melhor as causas para uma prevenção mais pragmática, inclusive com a elaboração de projetos de apoio diferenciados a homens e mulheres.

Sem contrariar a estatística mundial, o maior número de suicídios é de homens, em proporção esmagadora de 70 por cento. E a faixa de maior risco, no Japão, se situa entre 45 a 59 anos, embora muitos jovens venham criando redes a respeito do tema na Internet.

A pesquisadora constatou também que a grande maioria dos familiares havia notado indícios de que a depressão poderia caminhar para o temível desfecho.

No levantamento junto aos parentes, constatou-se que 50 por cento consumaram o ato depois de um ano após a emergência dos sintomas, 70 por cento depois de dois anos e 100 por cento após três anos. Os números alertam que as vítimas adiaram a decisão até o limite da resistência.

Os indicadores são ainda mais alarmantes se considerar que as tentativas de suicídio são dez vezes maiores. E que depois do atendimento de emergência, se faz pouco trabalho de acolhimento psicológico para evitar novos episódios.

Além disso, a prevenção ainda se restringe a entidades voluntárias que fazem plantão de atendimento telefônico até de madrugada.

Sakisaka recomenda que os familiares não se constranjam em comentar o assunto, por considerá-lo uma vergonha. “É preciso trazer à tona para que a questão seja focada como um problema de saúde pública”, diz.

foto
O maior número de suicídios é de homens, em proporção esmagadora de 70 por cento

Nenhum comentário:

Postar um comentário