sexta-feira, 18 de março de 2011

ESTRANGEIROS FOGEM DO JAPÃO



MILHARES DE PESSOAS LOTAM O AEROPORTO


NA TENTATIVA DE SAIR DO JAPÃO



Para acelerar a fuga, vários países instalaram escritórios de emergência no aeroporto. Chineses formam enorme fila para regularizar documentos.


No Japão, o correspondente Roberto Kovalick falou, nesta quinta-feira (17) com muitos estrangeiros que estão contando os minutos para sair do país.

O tamanho da fila em frente à embaixada da China dá a dimensão do temor que tomou conta dos estrangeiros que moram em Tóquio: é enorme e a cada dia aumenta. Os chineses são a maior colônia estrangeira do Japão. Eles querem regularizar os documentos para sair no primeiro avião.


O aeroporto de Narita virou uma espécie de nações unidas pelo medo. Uma mulher da Tanzânia conta que estava no interior do país na sexta passada (11), dia do terremoto e do tsunami, e por causa da falta de combustível só conseguiu chegar nesta quinta ao aeroporto. Outras mulheres das Filipinas dormem no local até embarcarem.


Para acelerar a fuga, vários países instalaram escritórios de emergência no aeroporto, como Austrália e a cidade chinesa de Hong Kong. "Nossos cidadãos estão conseguindo sair. Voltando para Hong Kong felizes", disse um diplomata.


Quando surgiram, no aeroporto, representantes da embaixada dos Estados Unidos, cheios de documentos, equipamentos e computadores, muita gente concluiu: a situação piorou muito.


É um programa de retirada dos americanos para outros lugares seguros na Ásia. O primeiro avião seria para Taiwan, num voo em que a embaixada comprou vários assentos.

Oficialmente, esse é um procedimento padrão em casos de risco, mesmo remoto. A embaixada dos Estados Unidos avisou que a quantidade de passagens era limitada e pessoas com problemas de saúde teriam prioridade.
Vinte brasileiros não pretendem voltar tão cedo. Há muitas crianças no grupo. Eles vão dormir no chão, por isso, fizeram um cercado com malas. A primeira turma embarca nesta sexta (18). Os demais só no domingo (20). Eles criaram uma regra: quem tem filho pequeno volta para o Brasil primeiro.
A organização foi o jeito de enfrentar a falta de passagens. A família Takeshita, com duas filhas pequenas, está aliviada. A última noite no chão duro do aeroporto nem vai ser a pior. “Faz um tempo que a gente já está sem dormir com os terremotos”. “A gente não consegue dormir não, preocupados com as crianças”.

Na pressa de fugir, eles deixaram tudo para trás, resultado de 11 anos de esforço no Japão. “A única coisa que consegui vender foi o carro. O resto ficou tudo para trás... móveis, não teve jeito”.


Para muitos, essa viagem às pressas significa o fim inesperado de um longo esforço por uma vida melhor para a família que ficou no Brasil. É o caso de Marcos. Em 20 anos, ele mal teve contato com os três filhos. Mas, com o trabalho duro de operário em uma fábrica de auto-peças, ele conseguiu alcançar o sonho: pagar os estudos para que um dos filhos se tornasse advogado.

“Eu agradeço a Deus por ter oportunidade de trabalhar aqui e no Japão e conseguir que um filho meu formasse”, disse Marcos.
Agora, porém, não dá mais para ficar. “Estou feliz. Com o coração apertado, mas estou feliz. Uma parte da minha vida está ficando aqui também”, contou.
Marcos é do grupo que vai demorar um pouco mais para sair. Só embarca domingo, mas avisa à família para esperar confiante a volta dele. “Agora é a hora de voltar para o Brasil. Temos que ser uma família unida e colher um pouco dos frutos do meu trabalho”.

Só quem não parecia ter medo no aeroporto eram as crianças. Por não entenderem direito o que está acontecendo. Mas onde todos esperam estar em breve elas sabem direitinho.


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