Postura mais racional que a de Lula pode render bons resultados, dizem professores
Dilma se encontra com o presidente chinês, Hu Jintao; presidente tem estilo mais próximo aos chineses
A presidente Dilma Rousseff lançou mão dos mesmos artifícios da diplomacia chinesa para dar uma guinada nas relações exteriores do Brasil. Adeptos da chamada “diplomacia de resultados”, na qual se faz mais e se fala menos, os chineses entregaram a Dilma resultados econômicos que foram plantados, diga-se de passagem, em governos anteriores.
Os chineses, dizem empresários brasileiros que negociam por lá, têm uma característica peculiar. Em um primeiro momento, eles ouvem atentamente ao que o seu interlocutor tem a dizer. Balançam muito a cabeça, mas nunca dizem "sim" ou "não". Para convencer um chinês a abrir o bolso e fechar negócio são necessárias semanas, até mesmo meses ou anos, mas sempre de contato próximo para que eles não se esqueçam da pessoa.
Dilma foi à China na carreira do bom relacionamento construído com o Brasil durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), que foi duas vezes ao país, e do restabelecimento da relação entre os dois gigantes emergentes promovida durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Com a tal relação próxima, Dilma pôde fechar negócios que devem render ao Brasil cerca de R$ 20,5 bilhões pelos próximos anos. Carne de porco, aviões, produtos para telecomunicações e até mesmo a montagem de uma fábrica brasileira de iPads estavam na pauta.
Pode-se dizer, portanto, que o Brasil saiu ganhando, certo? Mas em se tratando de relações internacionais as coisas não são tão claras assim.Chineses são duros na negociação
Para o professor Fábio Kanczuk, especialista em macroeconomia da USP (Universidade de São Paulo), os chineses são conhecidos por serem duros na hora de negociar. Querem muito e entregam de acordo com seus interesses.
A relação com países africanos, por exemplo, é cercada de polêmicas. Em troca de obras de infraestrutura, como estradas de ferro e indústrias, os africanos entregam seus recursos naturais, como minério e petróleo, em um sistema que lembra o colonialismo.
- Ela [a China] tem sempre um interesse, tem esse costume de chegar firme, fazendo investimentos pesados, mas, no fim, fica com o controle. Se eles investem na construção de um porto, só eles terão controle sobre o porto. Não me assustaria se alguns desses anúncios não se concretizassem.
O receio é real. A Embraer, que fechou a venda de 35 aviões para os chineses, instalou uma fábrica no país em 2002. Para tanto, foi obrigada pelo governo chinês a se associar à estatal Avic.
Durante a parceria, os chineses aprenderam a montar os aviões da Embraer e criaram a sua própria empresa, que agora diz não precisar mais dos brasileiros para seguir vendendo no gigantesco mercado interno.
Estilo de Dilma é diferente
Assim como no comércio, os chineses também são econômicos na política. A maioria das promessas feitas durante a primeira visita de Lula, em 2004, não se concretizaram.
Lula chegou a anunciar uma mudança importante na ótica comercial, declarando que a China passara a ser vista pelo país como uma economia de mercado e apoiando sua entrada na OMC (Organização Mundial do Comércio) - o apoio, no entanto, não foi votado pelo Congresso Nacional, ficando sem validade.
O troco veio, no mesmo ano, em barreiras fitossanitárias a produtos brasileiros, como na carne suína e em carregamentos de soja que ficaram parados em portos chineses. Além disso, a China ameaçou o Brasil caso o governo levasse adiante as promessas de impor salvaguardas, que são mecanismos para proteger a indústria nacional, sobre brinquedos e outros de seus produtos exportados para cá.
Para o professor Argemiro Procópio, da UNB (Universidade de Brasília), autor de três livros sobre as relações entre Brasil e China, o tom usado pela presidente Dilma pode ser um diferencial na relação entre os dois países daqui pra frente.
- A mudança é inegável. Lula prezava pelo improviso e personalismo. Dilma já pensa mais racionalmente em seus pronunciamentos. Os chineses gostam disso. Com Dilma, não acho que o Brasil vai ser uma onça que mia como um gato. Vai ser uma onça que vai rugir como uma onça.
Buscai ao SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto.(Isaías 55:6)
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